Oie!
Depois de quase 2 anos, resolvi voltar ao meu cantinho que me deu tantas alegrias para contar minha história sobre minha gravidez sendo obesa, diabética e hipertensa. No meu instagram @camilacura dezenas de mulheres encontraram forças no meu relato, viram que sim, é possível ter uma gravidez sadia com comorbidades, alinhando bons profissionais, paciência, disciplina e resignação! :)
Vem comigo!
Ter ou não ter filhos?
Esse foi um GRANDE questionamento durante grande parte da minha vida. Sempre achei bonitinho, mas o dos outros. Tive a oportunidade de cuidar de alguns priminhos (dar banho, ninar, passear, brincar) e achava legal, mas nunca foi meu sonho ter o meu. Não senti o famoso relógio biológico "tocar" também não. Pensei da seguinte forma: eu vou me arrepender mais de não ter filho ou de ter filho? Se tiver não dá para devolver, hehe. Também nunca pensei em ter filho pra cuidar de mim na velhice, acho isso um egoísmo. A criança mal nasce e já tem essa responsa. Tadinha! Sei que a idade socialmente/clinicamente dita como ideal (35 anos) para ter filhos foi chegando e meu medo aumentando... e aí, Camila?
Mesmo sem a certeza de que queria filhos, me informei com médicos sobre como seria caso engravidasse...
Marquei ginecologista, endocrinologista e cardiologista em 2018. Se eu dependesse do primeiro "profissional" que eu fui (ginecologista) jamais teria filho. Ele julgou meu peso o tempo todo, me botou muito medo por conta da diabetes, disse que eu teria que perder no mínimo 20 kgs antes de engravidar. Disse que meu filho nasceria "defeituoso" caso não cuidasse da glicemia. Usou parâmetros de controle que foram desmentidos pela minha endocrinologista. Sorte a minha poder tirar todas as duvidas antes de engravidar. Já na endocrino, ela me informou que eu teria que parar com o medicamento usual dos diabéticos (DM2), que o controle seria diário, medindo glicose 4 x ao dia antes das refeições e que eu teria que fazer aplicação de insulina na barriga em caso de glicemia acima do normal. Isso durante toda gravidez e amamentação. Já no cardiologista, mudamos a medicação, pois o remédio que eu tomava não era permitido para grávidas. Nossa primeira troca de remédio não deu certo. Passei mal com ele, não me adaptei. Mudamos novamente e aí deu certo, então já passei a tomá-lo. Em 2019, procurei uma nutricionista. Nessa altura já tinha parado o anticoncepcional e sabia que poderia engravidar a qualquer momento. Como já sabia que o controle das comorbidades seria todo através da alimentação, me antecipei.
Parei anticoncepcional em 2018!
Tomei anticoncepcional durante 12-13 anos da minha vida, direto, sem pausa. Eu estava sentindo muitas dores nas pernas e nessa época estava explodindo relatos de pessoas que tiveram trombose devido o AC. Fiquei muito preocupada, pois além das dores, minha família toda por parte de mãe tem problemas circulatórios severos. Em pouco tempo de pausa do remédio, minhas dores melhoraram MUITO, minha libido aumentou, mas meu rosto ficou todo cagado de espinha haha. Quanto a gravidez, mesmo ouvindo que demoraria muito para engravidar, tentei fazer tabelinha. Só tentei mesmo, porque quando a gente para com o remédio, fica tudo desregulado! Até eu que conhecia cada fase do meu corpo, perdi o controle (do período fértil). Prova disso foi que com 4 meses sem usar AC, minha menstruação atrasou 10 dias e eu fiquei doida achando que já estava grávida! Fiz teste de farmácia e deu negativo.
Medo de engravidar!
Eu tenho 16 anos de relacionamento e sempre, sempre me "cuidei" muito para não engravidar. Tenho plena ciência que métodos contraceptivos falham e por isso usava 2 e até 3 métodos de uma vez, devido meu medo extremo de ter filho "antes da hora".
1 ano e meio sem anticoncepcional e nada...
E com isso as cobranças começaram. Dos outros e minha também. Os pensamentos mais funestos possíveis. Será que não posso engravidar? Foi quando procurei outro gineco, no caso, a gineco/obstetra mais maravilhosa do mundo: Dra. Maria Cláudia Vianna Barbosa! Que inclusive, foi indicação das seguidoras do meu instragram como médica NÃO gordofóbica/empática (confira a lista de médicos não gordofóbicos do RJ AQUI). Começamos com exames básicos, que foram normais. Sempre fiz exames ginecológicos anuais e nunca tive problemas sérios. Nem SOP, nem nada. Foi quando a médica começou a passar exames mais invasivos, como espermograma e outro que avaliaria minhas tubas uterinas, que tivemos a surpresa. Não precisamos nem fazer esses exames: 1 ano e 8 meses depois lá estava eu, grávida com 101kgs, diabética e hipertensa!
Vamos de clichê? Quando é pra ser, é pra ser rs Com 4 dias de menstruação atrasada, no dia 20/02/20 (nem sabia de pandemia) eu resolvi fazer o teste de farmácia, daqueles básicos. Achei a segunda linha muito clarinha. Resolvi fazer o teste digital. Nele a gravidez foi confirmada. Ainda assim quis fazer o Beta. Eu não acreditei. Nem William hahaha. Meus sintomas foram: sono, cansaço a toa, seios doloridos, MUITA cólica, irritação, muito xixi, MUITA falta de energia, gases, fiquei muito xôxa. E aérea com a notícia. Ficava um tempão olhando para o nada rs Fiquei muito esquecida também!
Acompanhamento médico!
Assim que soube da gravidez, parei com o remédio da diabetes, marquei gineco, endocrino e dei a notícia para minha nutricionista Taciane Merlim, maravilhosa, que já me acompanhava. É MUITO importante você encontrar profissionais que te acolham, empáticos, que não te julguem, que entendam sua história e que te passem confiança. Eu tive tanta confiança na minha obstetra, desde o começo e isso foi primordial para mim. Minha nutricionista também foi perfeita, juntas conseguimos fazer um plano alimentar difícil no começo, mas que ao longo da gravidez consegui administrar. As consultas com a obstetra eram todos os meses, por se tratar de gravidez de alto risco. Na reta final foram de 15 em 15 dias, depois toda semana. Com a nutricionista também. Com a endocrino foram 1 ou 2x, mas porque graças a Deus ficou tudo controladinho somente com alimentação, caso contrário eu teria que voltar lá mais vezes. Obs.: não fiz nenhum tipo de exercício pois tinha medo de sair de casa devido a pandemia. Quando saía para os exames, eu morria de medo e ia toda equipada!
Primeiro trimestre, o terror!
Foi horrível. Eu fiquei muito irritada. Rabugenta. Chata, chata, chata. Malditos hormônios! Também pudera, minha primeira (e espero que última) pandemia. Medo de sair de casa. Medo de pegar COVID. Foi aí que comecei a rezar o Salmo 91 todos os dias! Fiquei sem ver meus pais durante um bom tempo, sem ver ninguém na verdade. Chorei algumas vezes. Surtei algumas vezes também, hehe! William chegava do trabalho e era a única pessoa que eu tinha para conversar e abraçar. A restrição alimentar no começo foi bem ruim. E olha que meu plano alimentar não era dos piores (baseado no meu histórico de dietas ao longo da minha vida rs). Eu ficava cansada muito rápido e isso me irritava porque sempre fui "elétrica". Não podia comer. Não podia beber. Quando gozava doía pois sentia contrações uterinas. Horríveeeel! Hahaha Tive o privilégio de trabalhar de homeoffice durante toda a minha gravidez, mas confesso que senti muita falta de ser uma grávida paparicada e do carinho e abraço das pessoas que amo, familiares e amigos. Foi bem difícil! Tive que comprar o enxoval TODO pela internet. Não tive o prazer de passear para escolher as coisas para o meu pequeno. Gastei os tubos com frete também! Ainda tive redução de salário. Não foi fácil, Braseeel! Ah! Não realizei meu sonho de mandar alguém sair do banco amarelo do bus pra grávida sentar hahahaha Que fase! A parte boa foi: não enjoei NADINHA! Acredito que a alimentação regrada contribuiu para isso. Zero vômitos! Bebi muita água também! De 3 a 4 litros por dia. Uma arraia mijona!!! Senti muita falta dos meus remedinhos... Sempre fui hipocondríaca e não poder tomar nenhum deles foi difícil pra mim. Por fim, coloquei na minha cabeça que a gravidez passaria por fases. Boas e ruins. E como toda fase, ia passar. E assim fui suportando.
Segundo trimestre, a lua de mel!
A famosa lua de mel da gravidez! Não tive incômodos, acostumei com o xixi, estava curtindo a gravidez! O bebê já mexia e era uma delicinha! Me acostumei com a alimentação, a barriga não pesava, o peito não doía, tive um pouco de dificuldade para dormir, mas estava na fase de montar o quartinho e o enxoval, então era tudo uma maravilha!!! Gostei muito!
Ensaio de gravidez?
Foi um dilema! Chá revelação/de bebê eu já tinha certeza que não faria porque não gosto, acho chato e um gasto que é mais legal reverter comprando as fraldas. Que aliás, ganhamos MUITAS dos amigos do trabalho do William (valeu, gente!). Mas voltando ao ensaio, eu fiquei com MUITO medo de sair de casa, por conta da pandemia. Mas já não aguentava mais ficar em casa e estava com muitas saudades da praia! Madrugamos na Praia Vermelha e tiramos lindas fotos 💓! Não tinha quase ninguém na praia, o que me deixou mais confortável.
Por que Francisco?
Aqui está bem explicadinho!
Terceiro Trimestre, vem neném, neném, veeeem!
Pensei que ai ficar nervosa, ansiosa, que minha pressão ia subir... Pelo contrário! Eu estava bem feliz e coloquei na minha cabeça que o nascimento do Francisco seria um dia de festa! Nessa altura dormir era complicadinho. Tive um pouco de falta de ar. Não conseguia levantar da cama direito pra fazer xixi. Mas não inchei. Nadica de nada!
Parto.
Escolhi cesárea. Eu particularmente não consigo ver beleza em parto natural, humanizado, normal. Não vejo beleza no "sofrimento", digo, na dor. Também não acho que a mulher será mais mãe ou menos mãe por isso. A minha obstetra disse que poderíamos tentar normal, mesmo eu tendo gravidez de risco, porque tive uma gravidez muito tranquila, fui muito disciplinada e tudo correu muito bem. Mas eu escolhi cesárea. No dia que ele nasceu, 19/10/20, eu acordei tão tão feliz! Ele estava com 39 semanas e 1 dia. O dia estava tão lindo! Eu quase comprei bola para colocar no quarto, porque eu estava encarando com uma festa de aniversário mesmo. Eu não fiquei nervosa, nem ansiosa. Fiquei curiosa para saber como seria o Francisco. E como seria operar também, porque foi minha primeira operação em hospital! Como médica formada em E.R e pós graduada Grey´s Anatomy, achei o máximo toda aquela parafernalha de hospital hahahaha! Agora sério, como confio muito na Dra. Maria e em toda equipe dela, fiquei super tranquila. O procedimento foi um sucesso, pressão normal do início ao fim. Acho que o Francisco deu uma ajudinha na mamãe aqui! 😍
Pós Cesárea.
Achei que seria pior. Me colocaram tanto medo da cesárea que me preparei para "o fim do mundo". Fiquei com os pés, mãos, barriga e pepeka inchados durante uns 20 dias. Não usei cinta. Aliás, acho um abuso quem recomenda o uso de cintas. Martírio a toa! Minha pressão ficou um pouco alta também. Não consegui dormir nem cochilar nos 4 primeiros dias, tanto pelo Francisco, quanto pelo incomodo da cicatriz. Deitava e me sentia com mal estar, enjoada. Tinha medo de "magoar" a cicatriz, então levantava cheia de medo. No sexto dia eu já não tinha mal estar e já me levantava da cama sem tanto medo. A cicatriz foi colada com cola cirúrgica e dois pontos, um em cada extremidade. Achei que fosse ficar com queloide, mas a cicatriz ficou perfeita! Lisinha, fininha. Tá linda! Ganhei muitas varizes. Não tive melasma. Não senti os órgãos soltos dentro de mim. Não fiquei com barriga de avental. Acho que já tinha hahaha Ah! Não tive nenhuma estria. Nova no caso, porque velha tenho várias. E tudo bem por isso, não me incomoda.
Deu tudo certo, graças a Deus, aos profissionais e a minha disciplina!
Que experiência, gente! Altos e baixos! Francisco nasceu lindão, cheio de saúde! Graças a Deus, aos profissionais que me acompanharam com muito amor e dedicação, minha disciplina e o amor e carinho do William e minha família e amigos (mesmo que de longe)! É possível ter uma gravidez sadia sendo gorda, diabética e hipertensa! Eu engravidei com 101kgs, perdi um pouco de peso durante a gravidez e ganhei um pouco de peso na reta final: tive o Francisco com 99,5kgs. Com amamentação (primeiros 4 meses e meio) e alimentação adequada perdi mais alguns kgs. Após liberação médica, comecei a fazer exercícios (caminhadas) e hoje, 7 meses depois, recuperei parte do meu peso, que na verdade oscila com variação de 5kgs.
Como está hoje?
Hoje estou temporariamente curada da diabetes e da hipertensão. Não tomo mais as medicações. Fiz vários exames para a conclusão desse atual diagnóstico. Acredito que em virtude de todo controle alimentar nesse período de gravidez e amamentação. Porém, a diabetes é uma doença crônica, então é para sempre. De 3 em 3 meses voltarei a fazer novos exames para verificar se continuo sem tomar as medicações. Não estou tão disciplinada como fui na gravidez e na amamentação, mas só de saber que é possível controlar diabetes e hipertensão com alimentação (80%) e exercícios (20%), fico mais tranquila.
Eu achei que a minha gravidez seria algo completamente diferente do que eu vivi. Que seria um horror, 9 meses de sofrimento. Eu morria de medo de ter crises na coluna (tenho hérnia de disco lombar), mas só tive uma dorzinha uma vez, que passou em dois dias. Apesar do primeiro trimestre horroroso, os demais foram ótimos!
Se você deseja engravidar tendo as mesmas condições que a minha, não tenha medo. Informe-se antes de como será o seu processo. Tente se programar para isso. Procure, se possível, uma equipe médica empática, que te acolha e te tranquilize. Faça sua parte. Tenha fé, se você acreditar nisso ou pense positivo. Cada ser humano é único, essa foi a minha experiência e com ela quero mostrar que sim, é possível!💓
É isso! Um grande beijo!
Camila Cura💓
Muito importante e esclarecedor seu post. Embora eu não seja plus size (uso 42), no pós parto tive o desprazer de cruzar com médico gordofóbico me pressionando pra perder logo os 15 kg que ganhei durante a gravidez (tenho 1,73 m e cheguei a 85kg, antes pesava 70). Absurdo, né. Não tive diabetes gestacional nem hipertensão nesse período.
ResponderExcluirNossa, absurdo mesmo. Lamento muito por vc ter passado por isso, Bia!
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